[O Demônio de Folga]
A cálida noite me acaricia,
sinto-a como um envolvente amplexo
de uma quentura morna
que me enlanguesce.
Todo o meu corpo,
toda a minha alma,
vêem-se enleados nesse
morno abraço da noite.
Evocações vagas, ingênuos mistérios;
quem teria plantado aquela dama-da-noite,
ali, bem em frente ao bar?
O seu perfume me faz sonhar
com um mundo feito
só da mais pura esperança,
meus tempos de juventude.
Neste momento, o ser maldito afastou-se de mim,
hoje, as minhas carnes estão saciadas!
Mas, de uma outra mesa do bar,
e já calçando as esporas dos desejos,
avisa-me, sorrateiro, o demônio:
— É hoje só!
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Da minha coletânea "Cavalos da Noite", ilustrada por Paula Baggio