MEU FIEL ORÁCULO

Consultei meu fiel oráculo. Monstro de previsões tamanhas. Destrinchador de futuros. Detentor de sintonias finas, excêntricas, sobre-humanas. Sempre disposto a informar-me sobre os mais infindáveis assuntos: dos misteriosos destinos do amor aos funcionamentos do intestino; dos pôqueres de sábado aos palpites de cavalos; do bom andar no trabalho ao saber da companheira, se juntos ou separados (além de tantos outros assuntos especulativos, diversos, absurdos ou desenquadrados). As respostas do oráculo desta feita deixaram-me contrariado, recheadas que eram de um fraseado vago. Meu fiel sacerdote cansou-se de me entregar respostas mastigadas ? - De nada adiantou reclamar - Disse-me, convicto, que por certo eu não merecia a tão enorme deferência da exatidão. Que para todos os outros, crua e indistintamente proferia os rumos da sorte por parábolas, assim e apenas. Fechou dizendo que por vezes confabulava a terceiros até por incertíssimas e nebulosíssimas fábulas. Serenamente, arrematou: - Por que o privilegiaria? Se não segue, a rigor, nada, nada sequer que se o diga? - Perguntei-lhe indignado quem foi o biltre que lhe falou isso. Jurei-lhe: era pura intriga. Rindo, com aquele seu longo olhar empedernido me respondeu com gestos largos, nada tímido: - Ninguém mo disse. Simplesmente pressagiei. Mas nem disso eu precisaria. Eu e mais ninguém: sua vida é uma bela merda absolutamente previsível. As suas falsas convicções são o seu cu. Aqui vai uma derradeira alegoria: já que é inevitável cagar, ao menos cague pelos olhos.