[Latência do Desejo... ou O Curral do Concelho]

[O meu barro é cinza claro,

mas torna-se prata quando a lua

clareia os cerrados da minha terra...]

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De tanto não ir até a fonte,

o pote voltou a ter o puro

gosto do barro de que é feito...

E criou bolor, e secou, e rachou-se

em cacos, cortantes, é verdade,

mas apenas e tão-somente, cacos...

[E eu, de tanto não ir à fonte do prazer,

virei só esse barro cinza-claro, seco...

essa pulsante latência de desejo!]

Centáureas alimárias que trotam na noite...

E passam... e passam... e passam...

Até o amanhecer, quando corpo insone

talvez encontre a paz no cansaço...

Na avenida calada, as suas passadas

aguçam o absurdo que é a existência,

desacorrentam as lúbricas sombras

que povoam a noite mal dormida,

e reacendem os desejos ocultados!

De que altos vêm essas criaturas,

de que sendas da noite eles saem

a caminhar na escuridão da minha

Cidade Perfeita adormecida em silêncios?

O Curral do Concelho, hoje uma visage

fantástica dos tempos coloniais,

há muito não existe mais...

lá eram recolhidos os cavalos errantes...

[Eu — o curral que me cerca vige dentro de mim!]

[da minha coletânea "Cavalos da Noite" - ilustrada por Paula Baggio]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 16/07/2011
Reeditado em 18/07/2011
Código do texto: T3099517
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