Saudade Rebordada
Sentia o coração pequeno pra comportar tanto sentimento,
precisava extravasá-los, colocar no papel da alma, do coração, escoar de alguma forma aquele turbilhão de emoções delicadas e profundas que vinham à tona com uma força ontológica-tsunâmica incontrolável, irreversível e, contraditoriamente tão sutil e delicada como um canto gregoriano, um poema lírico nascendo, uma flor lilás desabrochando...
Procurei uma página em branco em meu coração, mas todas
estavam preenchidas com tantas emoções, tantos sentimentos, tantos signos emocionais indescritíveis, tanta beleza indizível,
tanta dor inconfessável...
Peguei então uma página de saudade e tentei apagá-la, mas
quanto mais esforço fazia para removê-la, mais visível, mais evidente a saudade se tornava, por isso decidi rebordá-la com minha sensibilidade e meu tato poético.
Usei o fio de ouro mais brilhante que encontrei. Enfeitei-a
com flores e cantos de verso saudando a vida. Para finalizar aparei as arestas, coloquei o brilho do meu olhar e a sombra do meu sorriso. Foram tantas as nuances de saudade que surgiram que me ofuscaram a visão, dando vazão a um oceano de lágrimas que escorriam pela minha face, com uma expressividade quase pueril.
Em minha parca sabedoria e infinita ingenuidade, tornei
minha saudade mais viva, mais brilhante e significativa, quando o intuito era tão somente apagá-la.
Todo sentimento verdadeiro torna-se indestrutível, indivisível, onipotente e eterno.
(Edna Frigato)