Até o fim
Foi assim naquela tarde. O vento frio batia-me no meu rosto enquanto eu caminhava. Os olhos, como vitrines, me exibiam, indiscretos. Meus cabelos esvoaçavam em mechas para trás, como o que acabara de acabar e que ainda esvoaçava atrás de mim. O inverno castigava minha força exterior. Mas o frio fustigante vinha de dentro, desafiava, e fazia tremer minha alma.
Caminhando, sentia todos os passos do que ainda ouvia, pisava o que sentia, num exercício de renúncia, num esforço extremo de aceitação. Tinha sede de aconchego, fome de abraço, carência de útero. Queria pensar e não pensava. Queria não pensar... Mas pensava. E caminhava. Nunca chegava. Nada chegava.
Foi assim, até o fim, naquela tarde.
Não era só mais uma tarde de inverno. Era um inverno de Adeus.