boa Noite
Enquanto o sol desliza sobre os meus cabelos, oscilando cores na minha tez, no brilho claro dos meus olhos, eu me fecho na calmaria pouca das horas, pois espero o cinza que no horizonte aponta o fim dos silêncios.
As nuvens negras antecedem as águas densas, que se aproximam continuamente e desaguam a qualquer minuto mesmo sem cobrir o meu céu...
Pouco ou muito guardo desses ensaios de lucidez, para que perpetuem como falas digeríveis e não lágrimas que se perdem misturadas as grossas cortinas de água doce.
Um cansaço me cobra o exagero de palavras, o torvelinho de preces mal acabadas e o fiar sem fim de sonhos, bordados com fios invisíveis dos desejos mansos, das vontades afloradas como botões bem nascidos. Lavo a alma em palavras silenciosas rabiscadas no abandono das horas; estas serão as marcas minhas deixadas como testemunho aflito da minha vivência.
E quando o torpor toma conta do negrume da noite, encolho-me com medo da vida que se mistura com a noite abafada dentro das quatro paredes do meu quarto. Canto baixinho uma oração e conto um a um os meus desejos mais antigos na esperança que amanheçam sorrindo para mim.
Olho minhas mãos pequeninas cheias de vontades, mas procuro escondê-las. Guardo dentro do peito sem que ninguém saiba as esperanças que tirei dos baus da minha infância.
Amanhã o sol vai beijar meus cabelos novamente sem perceber que a noite levou mais um pouco da minha alegria.