Testemunha
Sou testemunha da inquietude dos teus olhos, do alvoroço da tua pele...sou eu sim aquela que assistiu o descompasso do teu acelerado coração...e a mais fiel observadora do desmazelo dos teus passos quando a tarde desmaia no colo da noite...nem assim sou parte desse cenário que anuncia a tua presença cheia de pompa...Cenário? Sim, nunca passei de uma peça decorativa na platéia dos teus desfiles...nem meu aplauso foi notado no meio de tantos rostos esfacelados e risos cheios de intenções...mas o que importa?
Sou eu o registro em peças e tantas prosas das muitas façanhas do meu coração enfurnado nesses sentimentos aloprados que giram afoitos à tua volta...sou eu a entrelinha que começa e nunca termina...a escrita apócrifa que ninguém reclama nem acusa...porque estou no princípio e no fim de cada lauda assinada com esmero de quem não se confunde...
Saberás que eu existo? Onde e quando entrei? Saberás sim que navego nas tuas vontades, que passeio na tua pele, mas jamais me olharás de frente...e nunca nos olhos há de me dizer do quanto me tens na escuridão das tuas palavras ou no desconforto das tuas insônias...
Sou o sorriso que se esconde nos teus gestos amistosos, sou o teu desejo de estar e nunca te mostrares...porque antes que possas te revelar, sabes que meu sexto sentido conhece essas pegadas que ficam marcadas no ninho que me guarda...e bem antes que alguma palavra dispare o sentido, minha tez anuncia a tua presença...
Será que chamo teu nome? Será que minha voz viaja sem eco, quando meus olhos se perdem na imensidão, que avisto cá da minha janela? Talvez...mas dos meus sentidos e da minha intuição...jamais saberão os que não sabem ouvir a voz do vento...ou quem não conhecer os mistérios do firmamento...nem tu possivelmente...
Como boa testemunha que sou de mim e de ti, selo no meu diário secreto os segredos que abrem as cortinas desse desafio...que só compete a mim vencer...
quisera saber reger tantos enganos...