A SERPENTE E O MENINO

(Considerem este texto um exercício. Sempre tive dificuldades em concordância verbal e conjugação. No imperativo, então... Nossa! Como nossa língua é cheia de ciladas... e linda! O uso de pronomes se complica, neste caso. Críticas, mais que bem vindas, serão necessárias. Por favor, não façam cerimônia. Agradecido!)

A SERPENTE E O MENINO

Áspide pérfida

que ao incauto aguarda

por entre a fenda rochosa...

...demônio de grotesca forma e destilado verbo,

cujo olhar apavorante e a voz melodiosa

intentam aplacar todo impulso antimorten:

- Não se vá agora, menino. Aproxima-te mais um pouco. Não chores a futura dor, aceita...

Sou aquela que te redimirá de todos os erros.

Coopera, meu querido.

Não resista ao inevitável...

Abstenha-te de tal relutância.

Saibas que meu ódio por tua recusa é mais mortal que minha picada.

Não terás em tua vida inimigo mais cruel...

E nem desfrutarás de alegria enquanto emboscar-lhe nas sombras.

Para que fugir do termo certo?

Preservar-se? Com que intuito?

Será o fim de tua tranquilidade, se correres.

O existir é horrendo, sabes bem disso.

É perigoso... De que vale conduzi-lo pelo medo?

Não me ataques! Não vês que sou especial?!

Se me matares, chegarás ao meu nível!

Que diferença fará aos teus, se tua alma se irmanar à minha?

Nem tentes. Será inútil!

Olha tua face no espelho d'água: vês como és fraco, inferior?

Trocar-me-ias por ti?! Claro que não!

O mundo é dos fortes, criança! Aceita isto! Não cometas tal injustiça!

Tu não és de nada! Tu és um lixo!

Não tens condições de viver mais do que eu nesta selva terrível!

Dá-me tua carne! Deixa-me tocar esta maciez com o agudo carinho de minhas prezas... Não negues a mim o que me é de direito! Cometa o único ato de dignidade que tua alma ridícula poderia conceder ao mundo!

Vem! Dá só mais um passo... devagar. Deixa-me provar a maior das verdades filosóficas. Não faça da vitória uma mentira pueril!

O menino aproximou-se, envolto em íntimos sussurros de escárnio. Os silvos pareciam enfeitiçá-lo até o último instante. Só até o último. Num espasmo, pisou-lhe a cabeça com um passo firme, até que os olhos de íris oblíquas saltassem das órbitas e o corpo sinuoso lhe enrolasse o calcanhar.

Feito o silêncio,

levou o verme para a casa,

abriu-lhe o ventre,

secou-lhe o couro

e forjou para si um belo cinto.

Edgar Rocha
Enviado por Edgar Rocha em 12/07/2011
Reeditado em 17/04/2012
Código do texto: T3091284
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