Valium.

Eu já estou medicada, sabe,

agora, não vai doer tanto

porque eu precisava falar

tomei, porque as lembranças já estavam soltas demais

e as lágrimas perto demais de descer

me sufocar

me internar

Eu gostaria, às vezes, sinceramente

gostaria muito

esquecer

ah, como eu queria

como se nunca tivesse existido

como se eu nunca o tivesse querido

e desejado ardentemente

porque, sim, ardi

estou ardendo

nas trevas impenetráveis do presente

E que belo presente

O que me leva a mais outra memória

Oh, céus, mais outra

E são tantas

mas tantas

que eu não poderia contar tudo

não com todos os detalhes quentes e doloridos

não daria tempo

eu não suportaria

porque já há, sim, lugares aqui dentro

onde cerquei com paredes de ferro

com portas de chaves miúdas

escondidas numa gavetinha também secreta

Precisei fazer isso

precisei tomar

senão eles, meus segredos, que nem são mais tão sigilosos assim, já que estiveram em vitrines por tanto tempo e para tanta gente que eu nem sei contar

senão eles, meus segredos, inclusive os que consegui guardar, os que ninguém conseguiu queimar

senão eles, meus segredos, eles me matariam

como punhais, como agulhas num bonequinho de vodu

E eu sei que já não estou muito coerente

me perdoe, mas eu precisei tomar

eu só queria falar.

8/6/2011 - 13:01h.

Lawlieth
Enviado por Lawlieth em 11/07/2011
Código do texto: T3088401
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.