Noite de Demência...
Eu lutei contra as evidências, mas eram tão evidentes
que pareciam mentiras...
No entanto, a dualidade, enfim, impunha-se implacavelmente.
A frieza daquela voz ao telefone congelou meu sentimento,
e as palavras lidas espatifaram o mesmo gelo.
{Havia ainda a lembrança da outra, a esperança pela volta dela
e o pior...os traumas que ela deixou, ainda machucam aquele coração.}
A tarde passou, empurrada pelo funil da ampulheta e o decorrer
daquela longa noite de demência fez-me entrever abismos vertiginosos
feitos de desafio por desafio.
Estava frio, então enrolei-me nas cobertas do sono, e assim
entrei em minha fase passiva, aceitando com resignação
o nada que fui nessa vida dele.
Na realidade eu sempre soube, que estando disponível eu o estaria perdendo, "Mulheres fáceis são putas ou estão doentes", foram as palavras dele e eu jamais esqueci.
Eu nunca quis sofrer o declínio, o apodrecimento da relação,
a morte lenta de um amor que ultrapassava o tempo...
E embora eu o desejasse tanto, receava lutar contra o passado que ele trazia ao nosso presente, contra as profundezas avermelhadas daquele inferno, no temor que ele se parecesse com a nossa história...
nas comparações que ele fazia junto as lembranças que cultivava
em sua memória...
Amanheci e não posso mais ignorar a conclusão.
Ele sempre viverá aquele amor paralelamente
e percebi que amá-lo será uma eterna peregrinação...