IMPOSSÍVEL DEIXAR DE AMAR A DOM QUIXOTE

Quando chegas mudo, com a funda agonia do homem de quem, no caminho, roubaram a voz e o poema que trazia, tudo o que eu queria era poder acolher-te, beijar teus olhos, abrir-te meu corpo, inteiro, para o amor.

Quando chegas com o jeito de quem vem de revidar, pelo caminho, as provocações dos moleques de rua, tudo o que eu queria era poder aplicar-te umas boas palmadas, tal mãe à antiga a corrigir o seu menino de valentias desnecessárias.

Não é fácil amar a Dom Quixote, eu vos garanto. Impossível desamá-lo, que não se desama ao Sonho, para sempre vivo, vivo para sempre, sempre a viver para além de seus gestos, sempre a viver para além de seu rosto, sempre a viver para além do que é e do que não é, sempre a viver inteiro e pleno para além de si mesmo.

Impossível desamá-lo, ao Sonho. Impossível desamá-lo. Impossível. Ao menos para mim.

Escrito na madrugada de 25 de junho de 2010.

Republicado, com alterações, na manhã de 08 de julho de 2011.