Poesia da vida
Poesia da vida
Quando você ler vai achar que é da sua
Tão banal, tão rica, mas é Poesia de todas as vidas que devagarzinho e de longe já significa, nem minha nem sua, na hora que você ler vai fugir da rima que casa com perdida, com encardida, vai que some com partida, tão à toa, tão prosa e vendida esta poesia da vida.
Pode achar que te pertence, todos acham, Poesia da vida não cobra nada e também não resvala, se quiser ela se instala e no minuto em que você ler, vai se identificar, toda vida tem pesar, não vá pensando que é só sua, a vida empobrecida, o cansaço amanhecido, as lentes sem aumento, os trinados ganidos, mal vestidos, consumidos pela poesia de todas as vidas, nem minha nem sua, basta você ler, não vá lacrimejar lembrando de um velho amor ou de um dissabor, de todos os ses e senãos coagulados na estrada, ah, se eu tivesse te encontrado antes, nossos sonhos teriam ido distantes, ah se você tivesse lido antes, talvez a vida não fosse arredia.
Poesia de todas as vidas, transidas, tão nossas e tão próprias quanto o minguante da lua, quando você ler, pensará que é com você e a voz sumida da Poesia da vida fará com seus versos o que a traça faz com o linho, seja ele branco, bege ou creme, ou o que o caroço faz com a fruta, seja ela oval, sebosa, lustrosa, a poesia é feito um óleo com graça que engraxa nossas vidas congraçadas, nossas lamúrias desgraçadas, nossos eixos entranhados nos seixos dos nossos destinos trançados.
Poesia da vida, se você ler, vai fugir e vai querer fazer parte, vai negar e blasfemar, mas ambos sabemos que a sua vontade é igual a minha, a poesia não é nossa e no entanto queremos que ela se estenda, poesia estendida, prolongada, pouco importa que ninguém entenda, ela jorra um jorro que não estanca, se estanca morre e se morre renasce.
Poesia da vida você quer e eu quero, todo mundo quer, poucos refreiam o pranto do parto aflito das palavras descabidas e do sentido aturdido, mas ao você ler, vai achar que é sua, essa construção desconstruída, essa sina desvalida, essa loteria que alumia, você não vai querer que acabe nunca, que depois do fim haja um começo e no final estarei lá, feito um tropeço, pra te dizer que seja o que for, isso não é poesia.
(Imagem: Felice Casorati - Girl on a red carpet, 1912)
Poesia da vida
Quando você ler vai achar que é da sua
Tão banal, tão rica, mas é Poesia de todas as vidas que devagarzinho e de longe já significa, nem minha nem sua, na hora que você ler vai fugir da rima que casa com perdida, com encardida, vai que some com partida, tão à toa, tão prosa e vendida esta poesia da vida.
Pode achar que te pertence, todos acham, Poesia da vida não cobra nada e também não resvala, se quiser ela se instala e no minuto em que você ler, vai se identificar, toda vida tem pesar, não vá pensando que é só sua, a vida empobrecida, o cansaço amanhecido, as lentes sem aumento, os trinados ganidos, mal vestidos, consumidos pela poesia de todas as vidas, nem minha nem sua, basta você ler, não vá lacrimejar lembrando de um velho amor ou de um dissabor, de todos os ses e senãos coagulados na estrada, ah, se eu tivesse te encontrado antes, nossos sonhos teriam ido distantes, ah se você tivesse lido antes, talvez a vida não fosse arredia.
Poesia de todas as vidas, transidas, tão nossas e tão próprias quanto o minguante da lua, quando você ler, pensará que é com você e a voz sumida da Poesia da vida fará com seus versos o que a traça faz com o linho, seja ele branco, bege ou creme, ou o que o caroço faz com a fruta, seja ela oval, sebosa, lustrosa, a poesia é feito um óleo com graça que engraxa nossas vidas congraçadas, nossas lamúrias desgraçadas, nossos eixos entranhados nos seixos dos nossos destinos trançados.
Poesia da vida, se você ler, vai fugir e vai querer fazer parte, vai negar e blasfemar, mas ambos sabemos que a sua vontade é igual a minha, a poesia não é nossa e no entanto queremos que ela se estenda, poesia estendida, prolongada, pouco importa que ninguém entenda, ela jorra um jorro que não estanca, se estanca morre e se morre renasce.
Poesia da vida você quer e eu quero, todo mundo quer, poucos refreiam o pranto do parto aflito das palavras descabidas e do sentido aturdido, mas ao você ler, vai achar que é sua, essa construção desconstruída, essa sina desvalida, essa loteria que alumia, você não vai querer que acabe nunca, que depois do fim haja um começo e no final estarei lá, feito um tropeço, pra te dizer que seja o que for, isso não é poesia.
(Imagem: Felice Casorati - Girl on a red carpet, 1912)