SAUDADES DA MINHA CRIANÇA
Numa dessas noites frias,subitamente despertei, e busquei a minha criança.
Olhei para mim e tive medo. Parecia que havia me perdido.
Espiei pelas frestas da memória, pelos buracos vazios do passado, e quase que por um fio, consegui me enxergar...bem distante.
Busquei pelos meus sonhos, tão abandonados pelas estradas da vida, e tentei inutilmente, agarrá-los com o mesmo entuasiasmo. Senti-me roubada.
Procurei desesperadamente pelo ladrão! Corri através do meu cenário, rodei cena por cena em fração de segundos, e lá estava ele, inexoravelmente ao meu lado,fazendo-me acreditar que os meu momentos e os meus sonhos seriam eternos.
Eu jamais pensei que me perderia de mim!
Na infância, o tempo só existe nos relógios...e são tão intrigantes aqueles ponteiros,parecem tão inofensivos!
Nesta época de Natal, em que observo a luminosidade do olhar das crianças...sinto saudades ...
Saudades daquela menina que dava todos os poderes ao Papai Noel. Daquelas cartinhas manuscritas cuja resposta sempre chegava-me na Grande Noite.Eu tinha tanto a pedir!
E como eu vibrava com as "pequenas-grandes" coisas!
Cantarolava as melodias de Natal, e sequer me dava conta de algumas letras, como aquela que profeticamente ensina..."Bem assim felicidade, eu pensei que fosse uma brincadeira de papel..."
E seria sim! Uma brincadeira...em todos os "papéis"!
Hoje, acho que já nem saberia pedir...e se soubesse... pediria tão pouco!
Numa dessas noites frias,subitamente despertei, e busquei a minha criança.
Cuidadosamente bati à porta do meu coração, e perguntei:
-Você ainda está aí?
Obtive o silêncio como resposta.O mesmo que, sorrateiramente, também me calou dentro de mim.