O diálogo das flores

silvânia mendonça almeida margarida

Fragrantes e formosas flores

que viviam placidamente

num imenso jardim róscido

a cantar diziam:

“Conheci um jovem autista

Esteve aqui por ora

A cantalorar lindas canções

Ninguém o viu

É lindo, meigo e puro

E somente nós

Podemos entrever o quão

Sinceros são os seus trejeitos...

E diziam felizes: “como é humilde

a posição que ocupamos diante deles.

O autista tem posição privilegiada

nos haustos divinos e eternos

seu brilho é interior e sem tormento

nunca murcha diante da aflição

e seu coração pleno e inocente

logo muda no coração da felicidade

da inocência e do perdão...

A rosa ouviu as palavras de sua vizinha

“Como é dolorosa a pregação dos felizes

para o coração do miserável!

Eu seco e tenho espinhos

Morro mesmo em vasos d’água

Sou inconformada e intranqüila

Não sou a rainha das flores?

Como é estranha a sua fala!”

As outras avizinhavam o diálogo florido

A violeta abriu os lábios azuis e disse

“Também sou infeliz, não de me pensar

Sem o benefício da divindade maior

Não seria a vida do autista dolorida?

a voltar sua face ao sol?

que queima as folhas e não fenece frutos?”

“Que nada, não penso assim

Não quero ser a conselheira dos fracos!”

Diz a avenca próxima às flores

“Somos pequenas,

vivemos próximas da terra,

e não estamos a salvo

da ira dos céus”.

“O autista”, completa a bromélia

“É soldado ferido num campo de batalha

Pompea sobre nós e outras em todos os jardins

na tempestade da vida, confina-se numa elevada

e vigorosa tranquilidade de espírito”...

E assim as flores, as mais diversas

Lindas e belas, no abrigo final

de todas as folhas

Dialogavam sobre o autismo

no silêncio da existência dos raios

Aquele jardim solitário sofreu muito

ao impacto dos céus adversos.

Estações e estações se passaram

Noites de brilho e céus de orvalho

Esperaram o calor e se calaram no inverno

E a natureza estendeu os dedos misteriosos e mágicos...

Flores brotaram novamente, as mais cristalinas

E o moço autista veio novamente ao Jardim

E o seu brilho intenso provou as novas moradas

Era bem-aventurado e feliz, perfeito enfim...

E o diálogo das flores recomeçou!!!!!