LABIRINTO DA ALMA

Hoje, olhei-me no espelho do tempo.

Surpresa, desconheci a pessoa diante de meus olhos.

Não lembro quando deixei de ser quem eu era. O que fui naufragou no limbo do esquecimento.

Talvez nem sequer um dia tenha sido.

É preciso fingir tanta coisa para sobreviver. Nossos desejos mais verdadeiros se escondem do sol do dia. O Lúcifer em nós, obscuro e estremecido, só pode ser visto quando iluminado pela luz tênue de um vagalume.

Quem sabe as personagens inventadas sejam a única verdade de uma vida de mentiras.

Tento escrever ideias que façam sentido, mas quando me calo, é que falo mais alto. O silêncio revela o que a boca não ousa dizer.

Sinto-me tão perdida. Não sei como me achar nem onde começar a procurar.

Como o voyeur que olha pelo buraco da fechadura, tenho medo de descobrir o mistério mais íntimo da existência: perder-se é o destino, o futuro libertador.

Perder-se é o único caminho possível, uma janela para um mundo novo e desconhecido, onde o segredo oculto e sagrado de tudo o que existe se revela.

Viver é estar em um labirinto à procura da saída. Tentar encontrá-la é o que nos move.

E, nos caminhos atravessados por esta busca inquieta e eterna, risos e lágrimas se misturam, acasalamos com luzes e sombras, parimos anjos e demônios, enquanto a vida escapa por entre nossos dedos corroendo nossas carnes e transformando nosso castelo em ruínas.

Próximos do abraço da grande noite escura da alma, percebemos perplexos a verdade sedutora e terrível: nunca estivemos neste labirinto. Ele é que sempre viveu em nós, porque nós é que o somos.Assim, a ordem oculta do caos, em um gozo quase religioso, faz nascer das profundezas o Deus escondido.