MOMENTOS DE LUCIDEZ
Uma luz acendeu em seu coração, um brilho fosforescente no olhar.
Alguma coisa mudou naquele ser, antes tão solitário, tão apagado.
Vieste como um furacão para sacudir, aquele corpo sem vida.
Amortecido pelos anos, como ervas que florescem em campos carcomidos pelo sol e pela aridez.
Embebestes com teu olhar, como o orvalho, que nas manhãs deixa seu rastro nas folhagens...
Aquele ser transformou-se com o teu sorriso, pois com ele cativastes, retirastes a barreira que existia.
Destruíste o indestrutível.
O ser duro e impenetrável tornou-se transparente, como uma correnteza, brilhando aos raios do sol na manhã.
Algo transformou-se...Quebrou-se.
Agora percebeu que tornou-se frágil, porém, com nova visão das coisas do mundo.
O gelo quebrado, a barreira rompida.
Seu coro sacudido, por turbilhões de pensamentos. O que fazer? Não está preparado para sair.
Como pérola em sua concha que tenta esconder-se, resguarda-se num último suspiro, como se não pudesse e nem devesse usufruir momentos preciosos e fulgurantes, ao mesmo tempo dolorosos e dilacerantes.
Debate-se com todas as forças, ora sorrindo ora soluçante.
Aqueles são momentos em que a natureza não irá querer compartilhar.
Entre a morte e a vida, debate-se em agonia, sendo consumido, esfacelado, sem querer ser libertado, sem querer ser socorrido.
O pássaro cativo, quando libertado, voa, voa, e retorna à sua prisão.
Como proceder?
Passado os minutos que pareciam milhões de séculos, voltastes ao teu antigo posto, ao teu torpor...
Foi só a lucidez de um momento em que jorraram tantos...milhões... de pensamentos num deserto de loucura.
Tucuruí, 01h30
Obra: Gotas