os cinemas de copacabana.

eram lindos os cinemas de copacabana !

o rian, na avenida atlântica, era um luxo.

suntuoso, tapetes vermelhos, espelhos enormes, poltronas de veludo , lustres doirados.

e aquela brisa gostosa pairando no ar.

o metro, na avenida copacabana, era um espetaculo.

não eram apenas os filmes que fascinavam.

o pipoqueiro, a lojinha de doçes, o vendedor de algodão, e, lá dentro, o lanterninha vigiando os namorados no escurinho.

¨empata foda ! ¨ xingavam os rapazes.

¨vieram aqui para namorar ou assistir o filme ! ¨, retrucava o funcionário !

e o roxy, na bolivar.

não era como hoje, dividido em três.

era único, o maior salão que já vi.

haviam os pederastas, como eram chamados na época, que sentavam ao lado dos meninos, para bulina-los.

¨sai, viado ! ¨, ouvia-se de quando em vêz.

dava até polícia !

e o cine copacabana, em frente a rua dias da rocha.

uma ocasião matando aula fui lá assistir um filme.

quando olhei para tráz reconheci meu pai que resolvera ir ao mesmo cinema, na mesma hora.

coincidência !

ele não me percebeu.

escondi-me na poltrona e saí de mansinho.

¨afinal ele pagava uma fortuna de curso para mim ! ¨

e o art-palacio, ao lado, comprido, confortável.

achava engraçado aquelas placas luminosas dos banheiros.

¨homens¨

¨mulheres¨

hoje teria que ter, também:

¨gays ¨

havia o cine joia, no sub solo da galeria com uma fonte de água !

meu amigo marcelo gonzaga, pediatra, tinha um consultório ali !

um cinema pequenino, meio escondido, pouco conhecido.

perto do copacabana palace, o ricamar.

um cinema familiar, com dois ambientes.

nos corredores, nas ante-salas e escadarias, retratos dos grandes atores.

¨glend ford, brigitte bardot, claudia cardinalle, gina lollobrigida, kim novak, jane fonda, sophia loren, pasqualle pettit ... ¨

como esquece-los ?

ali deslumbrei-me com ¨hombre ¨, um dos últimos grandes faroestes.

na barata ribeiro, o bruni.

uma galeria também, no sub-solo.

encantei-me com os filmes de roberto carlos lá.

¨é uma brasa mora ! ¨

na prado junior, em frente à boite plaza, perto do beco da fome, o cinema-um, especializado em filmes de arte.

deslumbrei-me com ¨ensina-me a viver ! ¨

a história de uma velhinha que dava lições de vida à um rapazinho que queria morrer.

e também ¨encurralado ¨ a história da perseguição infernal de um caminhão sem motorista à um carro comum.

no posto seis, na galeria alasca, dois cinemas de filmes eroticos.

salas muito apertadas, cadeiras de madeiras, a maioria quebradas.

uns tipos estranhos na platéia !

olhares esquisitos !

¨cheiro de porra no ar ! ¨

- sai pra lá !

ali era a chamada galeria do amor.

foi local de inspiração de uma cançâo de agnaldo timóteo.

¨na galeria do amor é assim ...

todo mundo a procura de alguém ! ¨

hoje em dia são igrejas evangelicas.

¨alelúia, alelúia !!! ¨

na raul pompeia, final de copacabana, existia o caruso, distante, charmoso.

frequentei-o uma única vêz, com esmeralda, de lorena, minha prima.

¨tentei beijá-la, sem sucesso ! ¨

- ¨me larga, joão, gritava ela ! ¨

na siqueira campos, onde hoje é o mercado mundial, havia um grande cinema.

não me recordo o nome.

era enorme, também.

assisti ali ¨james bond, o agente 007 ! ¨

como era bacana ver aquele cara fazendo tudo !

namorando as mulheres mais lindas !

vencendo todas as batalhas !

ali nasceu em mim a vontade de vencer !

deixar de ser um garoto duro, dependente dos pais.

¨papai, me dá um dinheiro ! ¨

- ¨vai trabalhar, vagabundo ! ¨

engraçado, como os filmes moldam a nossa personalidade !

benditos os cinemas de copacabana.

que os anos não trazem mais.