O Mais Profundo De Mim Mesma

Nesta noite vigiada pelo olhar metálico da lua, não quero ficar só. Preciso estar.

Uma urgência interna avassaladora assume o poder e exige o encontro imediato com o mais profundo de mim mesma.

A humilhação de saber ser inútil resistir agita meu sangue. Não há escolha nem escapatória. O inevitável se aproxima a passos largos.

Eu sou a vítima que, assustada e excitada, fecha suavemente seus olhos e oferece o pescoço à espera do doce veneno do vampiro. Sei que o algoz também é o salvador, aquele que me livrará de mim mesma.

Imersa na escuridão do desconhecido, percebo que a solidão nada tem de vazio. Ela é povoada de cantigas de infância, da lembrança de beijos roubados e amores desfeitos, da saudade de pessoas que jamais voltarão, de aromas e sabores perdidos no tempo, de sorrisos e lágrimas compartilhadas, de vitórias inesquecíveis e derrotas amargas, de anjos e demônios bailando ao som do acaso.

Estranhamente, não sinto medo. Quanto mais me deixo levar, mais me aproximo de mim mesma. Sou uma mistura de tudo e de todos que cruzam o meu destino.

Minha dor se cala diante da magnitude destes encontros. Já não quero competir com o tempo nem vencê-lo. Aceito o desamparo, a impotência e a indefinição.

A escuridão, enfim, cede espaço ao dia. E eu decido, então, renascer das cinzas mais uma vez.