Há um silêncio absurdamente medonho e profundo
E que vem se apoderar de tudo, do sonho e do mundo
Da luz e da escuridão, das profundezas e da imensidão
Um silêncio de chão que sempre faço antes do mergulho
Não sei se sou este ou o outro, o eu mesmo ou o trocado
Preso no infinito instante em que tudo somente passa
A vida com sua morte ceifando olhares e os sorrisos
Devorando-me essas palavras tão belas de antanho
Devorando o que fui, o que quis, o que sou e o que fiz
Com seus olhos vidrados e plenos dum tempo eterno
A mim um olhar apenas efêmero e tão perto do fim
A mim um devotado desprezo de uma fina indiferença
Essa não querença e não pertença a essa não permanência
Esse meu querer não querer nunca mais querer mais nada
Minha vontade de ter vontade de nunca mais ter vontade
Quando me invade esse silêncio de me apagar as horas
Um silêncio assim, absurdamente profundo e medonho
 
Vê? Ninguém compareceu ao formidável enterro...
Havia de ser somente eu por entre os troncos
Pisando folhas mortas de não vividos outonos
Espalhando flores pelo chão dos desgostos
Balançando ao vento de tanta chuva no rosto
Ouvindo o barulho de velhos trens na memória
E a história de um amor que não viu um agosto
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 30/06/2011
Reeditado em 19/05/2021
Código do texto: T3066906
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