Ansiedade
Ansiedade, que chega arrebentando
o frasco de vontades reprimidas,
asas que ganha a quietude silente
para ousar e afrontar o cenário cotidiano,
de travas e hirtas amarras,
mais avoengo que os giros da Terra.
Doença, que nada!
Contradizendo o que fomentam as clínicas consumistas,
ansiedade é saúde da alma aventureira,
com sede de desbravar os vãos do mundo
e por eles escorrer,
feito sangue de lua pingando seu lume
no negrume noturno das águas marinhas,
cheias de afluentes estrangeiros adocicados
em crispas e cabeleiras borbulhando o súbito.
Desafortunado o que não anseia,
não endoida de desejo,
não se arvora em saúde
e nem retruca o quinhão sucinto consigo compartilhado,
do tamanho da sua coragem em desafiar
e afrontar parâmetros obtusos e padronizados,
porquanto de inércia já morreu,
não sonhou, não lutou, não aspirou, não esperou
e tampouco jamais o horizonte lhe seduziu.
O ansioso é assassino do desânimo vicioso
e se nutre das paixões que o mundo derrama,
justa e essencialmente para os sensitivos,
que nelas se movem e florescem,
ousando degustá-las avidamente,
mudando o rumo dito certo pela surpresa eventual destemida,
tão orgástica quanto virgem do mal,
absurdamente encantadora
como noites claras e dias negros.
Santos-SP-30/11/2006