pútrefa poética

poética persistente

reflexo da resistência,

perfura os muros da totalidade,

envenena-nos contra a escravidão da língua,

fomenta o amor, conclama imoralidade,

transborda a ampuleta

navegando numa corrente de esponetaneidade

desfaz sem compaixão os nós dos estatutos,

e os reduz a nada,

vais entre dedos passando,

torna-se água, carrega o deserto

em suma semântica,

destemendo o ofício, antes dito,

ao rasgar os pergaminhos

guardados nos baus da memória

desnuda, se entrega à luxúria

esbanjas teus labirintos

ainda que iconoclasta,

clarea o cavernoso coração,

grande inimigo de coveiros

covardes com togas,

títulos cadavéricos, assassinos

do corpo, com sua aversão ao lirismo,

impõem sua dinastaia aos corações,

mas a poesia resiste, ela resiste

insiste em rir, em dançar

além de seus olhos tapados

pela falsa sapiência