SOU TUA VELA
Com um molde de vidro transparente fizeste meus contornos.
Deu-me de teu oxigênio, sopro, em um só beijo ao anoitecer.
Foi suficiente combustível para alimentar minha chama.
Sem tua invisível presença eu não existiria,
Apagada estaria, sequer acenderia.
Porque assim sou, me fizeste vela,
Feita da cera das abelhas melíferas.
Expandindo-me perfumo teu ar com minha própolis,
Com o aroma doce das pétalas colhidas por ti.
Talvez fossem flores amarelas que em mim depositaste
Para que meu fogo dourado clareasse teus princípios inativos.
Não me questiono por ser vela, se me criaste para ser bela,
Mas não queira medir quão será minha candela,
Porque nem eu conheço os caminhos de minha alquimia.
Sempre espero de ti o conforto e a dureza do candelabro,
Aberto em vários braços para suportar-me.
Mas sou leve, sou cera, sou pavio, orientando-te no meio-fio.
Por isso quando termino lá estás tu, moldando-me outra vez.
Porque tu necessitas de meu lúmen,
Porque eu necessito daquele beijo quando o sol se esconde.
Por que sou tua vela?
Para que possas enxergar o que há de lindo dentro de ti.
Inspirado no poema:
A VELA
ANTONIO TELES ZIMERER
Publicado no Recanto das Letras em 24/09/2010
Que queima para clarear o ambiente,
Que se derrete pelo calor.
Primeiro, consome a cera
E depois, o interior.
Que não seria vela
Se não queimasse por inteiro
Por longas noites infinitas
Mostrando os labirintos
Da escuridão da vida.
Vela, não reclame por ser vela.
Debaixo do teu clarão,
Vidas que vêm, vidas que vão.
Um dia, não restará resíduo
De sua cera, e de seu pavio,
Que restará, no final?
Valeu a pena ser vela?