A vida é complexa.
Mas eu sou um sujeito simples,
sem predicados.
E odeio adjetivos,
eu me acho substantivo.
E crio metáforas para o abate,
para me alimentar delas.

E haveria de chegar o tempo
em que nossas metáforas gastas
perdessem todo o seu encanto.
O lirismo pode ir só até certo ponto,
que é o mais próximo que podemos estar
quando estamos em frente ao espelho.

Não há magia no ar, na terra e nem no mar,
é bom que se desista dessas pobres ilusões
e das fantasias ridículas que nos arrastam
para o mais profundo do mais profundo
e mais absurdo silêncio.
Este sim eu quero, faça, dê-me!

As flores e borboletas só são belas
porque são o que são, só o que são,
flores e borboletas.

Está decretado o fim de toda a hipocrisia.

Quero o ódio nos olhos, a cuspida na cara,
quero o chute na canela, o esbarrão bruto
e olhar de frente para o inimigo...

Eu só trabalho por dinheiro.
Só funciono se não for inteiro,
eu aceito sua mentira de bom grado
e guardo comigo o meu verdadeiro...

Os seus sonhos,
os seus planos,
as suas palavras insanas,
os seus desenganos,
não valem o que eu bebo
e o que eu como!

E eu só escrevo por puro tédio...

A sua fé,
ou a sua falta de fé,
a sua bondade ensaiada
no olhar que boceja,
são menos que nada!

E os deuses só são imortais
porque não existem.
Deixem que deus viva eternamente,
porque não se mata assim uma ideia,
mude de ideia e vá fazer algo útil,
como um bife acebolado
ou um refogado de abobrinha!
Você que crê em deus, erga as mãos
e agradeça aos céus a porcaria que é
todo dia dê graças a essa porcaria,
ou mude de cantoria.

Chega o fim mais esta ladainha...

 
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 23/06/2011
Reeditado em 19/05/2021
Código do texto: T3053160
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