DO NOME AZUL QUE FOI MEU
Eu, eternamente na concha deste apartamento, com o silêncio dela no próprio quarto e o meu silêncio diante do espelho em que recuso olhar-me. Em mim, a sensação da inexistência do mundo exterior e de mim, no tal chamado mundo exterior - ah, como gostaria que este escrito fosse metáfora e não o registro pleno da minha condição! Pudera andar a esmo, andar, andar, andar, andar, até esquecer o nome das minhas pernas… o nome do azul que tive no meu nome, o nome do azul que, por um átimo, foi meu. Jamais rainha de mim mesma, jamais rainha de nada, abdicada à força de cada um dos reinos que não me couberam, nos quais eu jamais coube. Abdicada. O oceano ruge sob o navio em que não viajo, em que jamais viajarei… eu, aqui, imóvel como uma árvore inútil, pássaro só tronco, sem canto, sem asas. E, no entanto, amo a este outro pássaro de olhos verdes que, quase o tempo todo recolhido na imobilidade do quarto, partilha comigo, de dentro do seu silêncio, a nossa mútua solidão.
Republicação na manhã de 22 de junho de 2011.