A morte antes da vida

O caixão foi preparado, está diante de mim, me acomodo lentamente, um pé após o outro, até repousar minha cabeça, não tenho pessa para chegar ao rodapé do roteiro.

O cálice com a bebida para o meu fim se encontra ao lado, envolvente, o cheiro doce anuncia o gosto quente, seu brilho escarlate ilude um esvaecimento glamoroso.

A cova foi aberta, é tão funda quanto a profundidade de um olhar apaixonado, antes do meu última suspiro já estarei pronta para meu corpo padecer em um vão frio e subterâneo, afinal já fui morta tantas vezes que me rendi ao cansaço, já não conto os gritos de terror que deí, e ninguém escutou; por estarem abafados pelas lágrimas que nunca param.

Hoje estou me entregando, me suicidando, serei carregada até o fim, enquanto em silêncio, digo que não sinto nada.

Enquanto baixam cada lado do ataúde suave como uma alma merece, os olhos se fecham. Ainda que com a primeira salpocada de terra queira levantar-me já não é possivel, o veneno círcula em minhas artérias, o ar me fugiu, as forças escoaram pelas veias, meu corpo se tornou gélido e a alma fugitiva.

Sentada sobre meu túmulo, enquanto lêe as escrições melancolica na lápide: " Alguém que viveu pouco, amou muito e errou desnecessariamente "; minha alma se dá conta de que não soube aproveitar nada, viveu com medo de errar, amou com medo de sofrer e errou por medo de não acertar.

A alma volta ao mundo, procurando um lugar onde possa se libertar de si mesmo.