PRINCESA CRESPA

PRINCESA CRESPA.

Márcia-Helena,

Do horizonte se desprende uma gaivota branca e solitária e, no adejar de suas asas, voam também as minhas saudades de ti.

Do nordeste se precipita esse sibilante vento que se arremessa furioso mar adentro, decodificando o teu nome de filha sobre as ondas intermitentes, que se repetem numa cadência eólica, fustigando-me com uma saudade líquida de vagas.

Nesse exílio sem sentido que se possa dar, eu já me sinto cansado com estes olhos velhos que permanecem tristes.

Tudo em mim naufragou: As saudades e os anseios que me perseguem, apenas soçobraram navegando a esmo os meus sonhos loucos.

Quando chega a noite sinto-me oprimido pela solidão que também me persegue, e tu de vez em quando afloras em minhas lembranças, e isso me conforta por alguns instantes no olvido de mim mesmo.

No entanto, norteia-me um sentido novo, talvez uma platonice elaborada na minha razão, em função da minha própria carência afetiva.

É o inevitável destino querendo me arrojar a um novo caminho, no qual, não pretendo percorrer. Jamais!

E dessa forma, sinto-me atado a ti, assim como a flor ao seu perfume.

E neste vagueio lírico vou despetalando as flores vivificantes que, ainda dormem em mim até encontrar o seu verdadeiro caule.

Já se encontram cansados estes meus olhos velhos.

Eles nada vêem quando me envolvo com a tua lembrança linda.

E assim, mesmo embaçado pelo tempo, eu diviso saudoso a silhueta de filha que se fez inesperadamente uma linda mulher.

Lembra-te que herdaste de mim um rio invisível.

Ele te navega.

É o sangue, esse rubro líquido da vida que transmudei para ti.

E como conseqüência, tu levaras eternamente por toda a vida, e por toda a vida que nascer de ti.

Nessa complexidade existencial, eu volto à mesmice do simplismo para te dizer que, ainda morro de amores e saudades de ti.

Eráclito Alírio

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 29/11/2006
Código do texto: T304459