BALADA DA MENINA BANCÁRIA

BALADA DA MENINA BANCÁRIA.

Começa o expediente como todos os dias.

Todos a postos para a missão do atender.

Também o teu sorriso é único e soberano,

Atrás do transparente vidro do guichê.

Abrem-se as portas e mantêm-se os sorrisos.

O carisma monetário te envolve.

Da fila sente-se uma simpatia nos teus olhares.

Os separa uma corda ondulada e disciplinadora.

Agora arquive tudo, menos os teus sonhos.

Estala os dedos, se possível até a terceira falange.

Ponha em ordem alfabética e muita exata,

Se possível, até a terceira letra e separa,

Com cuidado as Marias dos Antônios,

Os Josés dos Manuéis.

Dê o mesmo tratamento também aos Joãos.

Aos homônimos, dedique-lhes especial atenção,

São gêmeos distintos e propensos à confusão.

Atenção as Ops! Não as pague sem antes consultar,

Os ditames do coração, as chaves e os códigos.

Eles podem bem transformar,

A tua sadia emoção.

Qualquer sombra de dúvida suste-as, pois não.

Com um sorriso nos lábios e com segurança.

Credite muito pouco nas contas dos clientes.

Debite sempre como manda a última circular.

Avisos, docs., cartas, custas e despesas várias.

Isso tudo há de aparecer no sagrado balancete.

O teu trabalho convertido em cifras de cruzados.

Estilizados em forma de ações e dividendos.

Sorria, sorria como se não houvesse correção monetária.

O próximo cliente pode ser um caso de amor.

Receba tudo! Menos desaforo de cliente nervoso.

Também depósito a vista, cheques e duplicatas.

Se estiverem em dia aplica-lhes um sorriso.

Se vencidas, somente a tabela de juros diários.

Pague sempre com dinheiro bom e bem contado.

Os cheques e outros valores apresentados,

Pague-os também com muito carinho e ternura.

Aos velhinhos humildes e de cabelos prateados,

Autentica-lhes com um beijo terno e carinhoso.

As suas aposentadorias é o trabalho do passado.

Ajuda-os a assinarem, pois aquelas mãos trêmulas,

Já foram seguras um dia, cheias de carinhos,

E produziram sábias e várias manufaturas.

Vira a tabuleta do caixa!

Se não tiver muito que fazer,

Arruma os cabelos e a pintura.

Receba: contas de água, contas de luz e alguns carnês.

Orienta os pobres velhos aturdidos e enganados.

Explica-lhes com doçura que entraram no banco errado.

Tomando-os pelas mãos com cuidados.

Aos cheques de terceiros, os estrangeiros,

Receba-os conferindo o algarismo e o extenso.

Para a assinatura não se lhe dê atenção.

Deposite com a ressalva de serem vinculados.

Ponha-os em clipes desses metalizados, mas...

Não arranhe os esmaltes das unhas,

Pois as tuas mãos são lindas e boas.

Soma-os, confira-os novamente, e depois,

Queima-os na sinistra câmara de compensação.

Quando folgar o movimento,

Treina:

Uma assinatura pomposa e enigmática

Para apor acima do teu carimbo e da matrícula.

Poderá muito bem servir se um dia,

Acordares com o sorriso da promoção automática.

Tudo se fará ordeira e automaticamente.

Dos lançamentos internos aos memorandos.

Aos débitos e créditos na conta de Razão.

Não faça nada sem antes consultar

Aos mais práticos e aos superiores,

Se não resolveres o problema.

Não te faças de afoita e sabida.

Seja humilde, indefesa, consulte o gerente.

Mas se por ventura vier a errar, não lastime.

Faça um estorno, o santo remédio da contabilidade.

É saudável, eficaz e muito inteligente.

Fim do expediente.

Balanceia-se o caixa com todo o cuidado.

Troco existente mais o numerário recebido.

Deduzindo-se é claro, aquilo que foi pago.

Há de dar certo e o caixa será fechado.

Deseja uma boa noite ao pobre gerente.

Ele vai ficar encerrando os malotes

E visando os documentos

São cavacos incontinentes do ofício.

Com um sorriso e um breve até amanhã,

Despeça-se sem ser insinuante apenas simpática.

Em casa: um banho quente para relaxar,

Uma comida leve e a noticia na TV.

Talvez uma novela de Avancini, a do Sassá.

Relaxa-te, espreguiça-te, sonha ali no sofá.

Põe-te a sonhar com a fortuna do teu coração:

Os sonhos, as ilusões, os segredos, as lembranças.

Vive o teu último sonho muito particular.

Suspira profundamente desejando algo mais

Pois começa o expediente, dentro de ti mesma.

Faça um balanço das emoções e do coração.

O patrimônio da tua candura e do carinho.

A burocracia existencial da tua vivida emoção.

Até encontrares um gerente para bem administrar.

Ama, ama, com toda a força do teu ser.

Bancária linda banque uma grande paixão.

Deposita amor: Essas moedas infinitas,

No banco indevassável do teu coração.

Eráclito Alírio

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 29/11/2006
Código do texto: T304455