DECANTAÇÃO DE OUTONO

Logo mais, depois dum lindo dia magistralmente outonal eu sei que a tarde cairá igualmente calma, naquela quietude silenciosa cujo mistério somente ao outono cabe decifrar.

Não há nada mais lindo e sequer parecido com os por-de -sóis do outono.

Suas cores, sua precoce despedida em várias nuances de feixes de luz parece as mãos de Deus brincando de pincelar os adeuses na aquarela da vida.

As tardes desses dias aqui caem como uma oração a nos pedir silêncio, respeito e reflexão.

As andorinhas durante o dia todo parecem bêbadas a ziguezaguearem pelas árvores das calçadas, para logo mais aguardarem a noite que desce cedo, já protegidas nos seus ninhos. Não se ouve nem um pio das cigarras que só dormem.

Meu Suinã vermelho, aquele de sempre, já irrompeu seus rubros candelabros vermelhos espalmados para o céu, e percebo que a passarada decerto já comemora o grande evento, a bebericarem o néctar das suas taças.

As minhas brancas flores- de- maio, sempre atrasadas, ainda espocam seus botões de vida, porque na naureza outonal nunca há muita pressa, então, aproveitam da luminosidade e calados decantam todos os versos da estação.

Às vezes, uma buzina soa ao longe me fazendo lembrar que a vida acontece além da mágica calmaria do outono.

É quando meu coração acelera e um verso se decanta de dentro de mim, como quem pede espaço e licença para voar ao seu justo destino.

Assim percebo que também sou ontono por dentro, aonde o silêncio sazonal sempre grita mais alto para, lá fora, também sobreviver de poesia.