Sorte minha
Sorte, que ganhei hoje
Que me brinda o amanhã
Sorte, trabalhei hoje
Trouxe à vida o que era afã
Sorte, que quê me houve
Não levou-me à trilha vã
Sorte, sorte atrapalhada
Que me trouxe à hora errada
Aquela que me é enamorada
Sem me fazê-la notar
Sorte, que por sorte, num momento
Me tiras deste tormento
para a dama a mim voltar
Com nas mãos meus documentos
Que deixei, por desatento
Caírem ao meu andar
Sorte, leu-me os pensamentos
Mais ainda, os sentimentos
Deu-me um dia de amar
Pois depois de um olhar
Pra carteira apanhar
De suas mãos, que ao tocar
De um fazer tempo parar
Onde tudo mais alude
À sede de completude
Que escapole no falar:
— Esta é sua carteira?
Moço, vim lhe entregar
— Sim, é minha, e por inteira
Não lhe posso a negar
— Ai, rapaz, mais que besteira
Ri sozinha... é meu pensar
— Que um dia eu mais queira
Que você a se alegrar?
— Toma moço, sua carteira
Eu não quero lhe atrasar
— Que me atrasa é a asneira
De não lhe acompanhar
— Onde, moço, quer chegar?
— Onde a moça estiver
— Ah, mas onde você está?
— Estou onde me quiser
— E se eu não lhe encontrar?
— Faça como bem quiser
— Devo ir, não vou ficar...
— Alto, moça! Volte a cá
Traz-me o que quis me entregar
— Em suas mãos pus sua carteira,
meu peito já me golpeia,
não me torne a chamar
— Moça, aqui há um abraço
grato que quero lhe dar
— Me desculpe! Lhe abraço!
Mas se aperto-lhe em meus braços
Só não sei se vou soltar
— Se me soltas, minha amiga
Já lhe digo que minha vida
Como antes não será
— Se te beijo? — Minha vida,
Será mais que uma amiga
Alma minha noutro olhar!
— Sorte minha, meu querer,
Que queria é te encontrar!