PRISIONEIRO DO AMOR

(O NAVEGANTE E A SEREIA)

Navegava distraído e nem percebi

que, aos poucos, me distanciava

do meu porto destino. Calmarias

enfrentei. Tempestades bebi.

Velas tremulavam irrequietas.

Nas estrelas me reorientei.

Pouco sabia de correntes marítimas.

Mas adivinhava de ti o doce

encanto de sereia. E teu canto

me guiou por entre os arrecifes.

Olhos fechados, apenas ouvi.

E avancei, o teu canto a soar

mapeando em ecos o rumo a seguir.

O barco oscilava, tremia, rangia.

E a música me embalava e me

encorajava a prosseguir sempre

em frente, na tua direção.

Noites e noites vaguei por

sobre as ondas, perseguindo

os murmúrios que me traziam

o vento. A suave brisa, a tua

canção me diziam que o

coração navega os rumos

que o amor determina.

E lá, para além de tudo,

onde nem mais esperança

existe, por fim, te encontrei

vestida de orvalho e luar.

E teus olhos brilhavam

feito contas de cristal.

Minha busca, enfim,

terminara. Senti,

naquele momento, que

a vida só tem sentido

quando se busca a

realização dos sonhos

que parecem impossíveis.

Nos teus braços me enlacei

e teus lábios de seda, de leve,

roçaram os meus. Aos poucos,

fui me perdendo de mim mesmo.

E em ti me reencontrando. Sereias

têm magias que fascinam. Tive

a certeza, naquele momento,

que jamais seria o mesmo.

Prisioneiro, de ti, enfim,

me fiz. Amor, doce estranha

inevitável prisão que liberta.

Se perguntarem por quem

as sereias cantam, não duvides:

elas cantam por ti. E quando elas

silenciarem, desconfie. Coração

calado não sabe os mistérios do amar.

Eu ouvi o canto da sereia.

E me banhei de silêncio cravejado

de estrelas, sereno alumbrar.

E no canto da sereia

me fiz de paixão encantada,

pétala de sonho, perfume de luar.

Viajei, velejei, me perdi,

me achei e de novo me perdi

em ti para nunca mais voltar...

José de Castro
Enviado por José de Castro em 16/06/2011
Código do texto: T3039539
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