A poesia perdeu o gosto
Um poema não me desceu bem
E ainda trago uns versos entalados na garganta.
Regurgitá-los-ei a contento,
Tudo no seu tempo, no meu temperamento.
 
A poesia encheu-se de desgosto
No gosto ruim do poema que vem,
Ainda os versos encalacrados na garganta
Matá-los-ei no seu devido tempo,
Depois de matar este sentimento.
 
A poesia perdeu a graça
E nem dá conta de tudo o que tem,
Não me acalenta e nem me redime
O verso do poema que me atormenta
Com essa palavra que nada fala.
 
A poesia, como tudo, passa
E depois dela nada mais vem
É o verso engasgado que me oprime,
De um poema que nem mais me alimenta,
Feito de palavra morta que tudo cala.
 
A poesia perdeu o seu posto
O poema perdeu o seu porto
(E uns versos encalhados no cais...)
Chega de cantar esse desgosto
E de viver como se já estivesse morto,
Para deixar morrer o que não vive mais.
 
A solidão, o deserto, o vazio,
A escuridão, o silêncio, a tristeza,
A ilusão poética de um desvario
A devorar o sumo dessa beleza,
A certeza de um sentimento baldio
Que se deixa morrer com delicadeza.
 
Que seja esse perdido verso arredio
E toda palavra crua só incerteza.
O poema há de ser duro e sombrio
E completamente tomado de estranheza,
Porque mal nasce e eu já o silencio,
Na destreza do que calo com delicadeza
 
E a poesia, ainda, com esmero, é só isso
E só esse desespero por ora me basta
Haverá, um dia, mais que um pouco disso
Por ora tiro dessa poesia só do que se gasta
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 16/06/2011
Reeditado em 19/05/2021
Código do texto: T3038914
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