Ao Pó Pertence
Que tal um cigarrinho do capeta numa varanda numa tarde insuportavelmente quente?
Ou então que tal balbuciadas tão quentes quanto o verão supracitado ao pé do ouvido?
E se tirarmos nossas máscaras rubras e jogarmos aos porcos e sermos nós mesmos?
Que tal sermos melífluos nos nossos melindres recíprocos; prolixos no nosso mútuo silêncio?
E se nossas almas se contorcerem dentro do corpo querendo ganhar o mundo com asas brancas?
Quem poderá impedir-nos se desejarmos sermos tão grandes quanto o maior tudo que tem por aí?
E se decidíssemos pela redução de nossos movimentos à simples pernas entrelaçadas sob um cobertor quadriculado de cinza e vermelho com xícaras de cappuccino em mãos e um beijinho ou outro na testa enquanto alguém fala alguma coisa na televisão desligada que fica pendurada sobre a escrivaninha que tem aquela pequena réplica do Starry Night ao lado da caixinha de seixos coloridos?
Com barras de chocolate de laranja numa tarde sem sentido no domingo de um dia que representa o que não somos.
Porque somos mais do que isso; somos mais do que uma nomenclatura, mais do que uma convenção social; somos mais do que a porcaria de uma inserção num contexto que abrange qualquer um que o queira ser.
Que tange o vazio.
Que trás a preguiça.
Dessa gentinha.
Que tal, eu e você, hoje?
Porque o amanhã ao Pó pertence.
Feliz Aniversário.
14/06/2011 – 17h04m