PARA ALÉM DA TRISTEZA DO DESAMOR

Tomar distância de si para poder se ver sem ser notada, espiar a própria caminhada, os passos desta que de tanto eu ver refletida no espelho já não reconheço, somente constato meanicamente a sua presença em idades sobrepostas e os mesmos olhos que encontro em todas as minhas manhãs.

Mas ainda assim, insiste em mim um olhar que vê através das lembranças, um coração que bate em compassos misturados de amores vividos e sempre é novo diante de uma inesperada mirada, de um tango surpreendendo os ouvidos, de um encontro ao dobrar uma esquina.

De fora da vitrine, me vejo manequim vestida em roupa de festa, estática, misteriosa, lânguida na frieza do acrílico do corpo gélido, e entre mim e eu mesma resta este divisor em grosso vidro que separa o meu mundo real do mundo projetado além da sanidade e do mero vivenciar rotineiro das minhas fomes e delírios.

Para além das horas tristes, dos dias inúteis, dos desconsolos e decepções acenam horas rosas, versos brandos, lírios, e o champanhe que bebemos àquela hora da tarde.

Para além da inutilidade da vida sem amor deslizam em doce calda os teus beijos que guardo sob as vestes, e eu ainda espero o milagre de um recomeço enquanto me vejo passar do outro lado da rua cabisbaixa, olhar perdido.

Para além da realidade, eu construo a tua volta.

marina zamora
Enviado por marina zamora em 12/06/2011
Reeditado em 22/08/2011
Código do texto: T3029140
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