Um duo: Acerca da Razão!
Minha razão passeia completamente infiltrada em alquimias
Estranha não poder dar à escolha o destino ou data certa...
É viagem ao interior de mim mesmo em suave sintonia
Reflexão profunda que nas entranhas arranha e manifesta
De hora pra outra essa energia se concentra em conjunção
Não insisto em mais nada que me faça estar tão sozinho
E o processo é silente provocando nos sentidos uma ebulição
Um contato íntimo ata e desata pensamentos em burburinho
Vivo eternamente aquele rosto que vem e não preciso olhar
Há uma entrega que de tão intensa emerge inconsequente
de modo que nada dilacera a força leve que se impõe!
Tudo parece amalgamado pela fixação do que vai captar
Como o bailado de cisnes que inspirou sinfonia pelo ar
Registrado no pentagrama melódico como a fazer levitar
Visão cai inocente, de olhos cerrados caminha em tal imagem
O semblante bonito de novo, da embriagada juventude de novo
Provoca múltiplas doces sensações e pueris reminiscências
Quer apagar as luzes, aproximar-se, dar de ombros ao tempo...
Que persiste abraçar o espaço no desenlace dos contratempos
Sobrevém sorrir mais que de costume e flutuar noutra criação
Ato estranho perceber tal elemento fluir do ser não escolhido
Salutar proceder diante do inesperado que surgiu do nada
A reação do riso antes preso e contido que explodiu pelos lábios
Seres desiguais se enlaçam nessa dor deliciosa da razão de amar
Na completude das virtudes traduzidas por essa sublime linguagem
Que subtrai medos e pudores antes de náufraga lágrima que vem...
Muito ouvi dizer que é a dor que alimenta a inspiração de poeta
Fonte que nasce do mais profundo elo que de lá o ser completa
Peço vênia para descrer dessa mísera máxima sabiamente vil...
Quero crer que o verbo encerra algo mais belo, terno e sutil
Prefiro acreditar na razão sem razões que a poesia me depõe
de que o amor, ainda que muito sozinho, já seja forte estribilho
Disponível para reconstruir versos esquecidos nesta escrivaninha...
Aquele papel pardo e virgem que pede ser possuído pela vertigem
A memória é farta porque guarda nossa história que pede o brilho
Prefiro sonhar de coração férvido, louco, perdido e enternecido
e desse sonho encontrar a razão de viver, de sonhar e de sorrir...
Como é mágico ver ressurgir a cor do arco íris onde era cinza
Tudo fica mais bonito até o que estava calado e não foi dito
Minha razão infiltrada em sentimentos totalmente inexplicáveis
Entende sua pequenez ante amor, poema, loucura, até a ternura...
Talvez resida aí a própria criação do mundo ainda por desvendar
E se reencontra com versos melosos que tanto em mim guardei
Que arranho agora na leveza da alma a bailar e sussurrar suas letras
Ela sucumbe silenciosa ante tantas etéreas e suculentas energias
Já não sei se preciso pensar sobre todas e tantas assertividades
O que suspeito é que há mistérios a querer ampliar possibilidades
Se possuo um coração arrebatado, despreocupado e inspirado
Que de tanta dor, amor e poesia me propõe suas próprias razões!
E aí me quedo diante do fascínio na lua de mel das minhas emoções.
Duo: Nalva e Hilde