Falcão Peregrino

FALCÃO PEREGRINO

Tomo o apelido de meu amigo e busco plainar por sobre os voos por onde ele ousa estar. Qual falcão peregrino que não quer pousar e parte indefinido na busca incessante do seu sobreviver?

Quero voar nas mais longínquas alturas e estar ao sabor do vento. Ver pequenas partículas que se aglomeram na distância e de bem longe perceber o desejo inatingível do instante. Apenas plainar e sentir o ar entrando por minhas ventas abertas, o respirar pela simples vontade de viver...

Carregar meu corpo até onde minha força me determina e limita. Estar dentro e fora do mundo a que pertenço. Apenas voar...voar nos pensamentos, sem compromisso comigo mesma, sem me agredir, sem contradições, sem contratempos para me atingir...apenas voar.

Sabor do direito à imensidão que se depara à minha frente, desfrutar da liberdade que me dou, dar uma pausa do elemento terra e sentir o vazio nas entranhas do ar que me envolve. Estar ao relento de dentro de meu próprio corpo, apego ao espírito retirando-o da matéria quase inerte desse instante.

Falcão peregrino sem rumo, sem eira nem beira, voa alto, tangencia as falésias da memória corroída pelo tempo, faz das imagens o seu alento para o próximo pouso, rendição ao cansaço. Mas ainda não! Não há espaço para pouso, ainda há asas para a imaginação de um falcão peregrino que impulsiona as asas para o desconhecido.

Lança-se mais uma vez no espaço como samocrácias que se erguem do desconhecido. Bate asas no sobe e desce do invisível que se forma no azul. Eis que o falcão não se cansa da busca frenética, nem mesmo nas aparas de alguma ruína corroída pelo tempo. O cair sombrio de uma tarde não o detém.

Seus olhos vorazes seguem o instinto de quem busca algo para se eternizar naquele espaço de tempo. Não importa se o tempo é escasso ou se o tempo se auto-determina perante a matéria. O falcão quer continuar seu voo tal qual flecha lancinante que vai em direção ao vazio de um infinito que se deslumbra a sua frente.

Destemido se apressa em aproveitar o seu tempo...que tempo? O seu tempo...o tempo que nem ele mesmo lhe determina, talvez o tempo de seu fôlego resistente, talvez o ar que há de lhe faltar no momento mais preciso, aí sim, saberá que esse tempo existe, condição inerente ao homem dotado pela sua própria existência.

Enfim, o falcão pousa. A respiração lhe dá o compasso para entender a realidade. A matéria o segura no parar repentino. Assenta-se e entrega o cansaço de suas presas ao plano real de sua existência. Percebe o sonho de voar alto e aninha a sua alma no mais escondido recôndito do seu eu.

Eliane Thompson
Enviado por Eliane Thompson em 10/06/2011
Reeditado em 07/07/2020
Código do texto: T3026472
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