O encanto de minha amada
Imagens são sinais.
Sinais que indicam, que encobrem,
que revelam, que vivificam, que nutrem,
que explicam, que contam as misteriosas coisas do amor.
Sinais que, como letras do alfabeto,
Compõem a linguagem incognoscível do amor na consciência limitada e experimental de cada homem.
Sob a imagem do fruto proibido
Está indicado o mistério da entrega,
Como se fosse pecado.
Sexo necessita de pecado...
E amor de que necessita? De sonho?
Sob a imagem da costela de Adão
Tirada para a formação de Eva,
Está preconizada a unidade indissolúvel entre homem e mulher.
À procura do amor de minha amada eu luto.
Quero conhecê-la para dar-me.
Beijá-la com o beijo de minha boca.
Descobrir dela, sua presença.
Saciar-me com a vista da sua beleza.
Porque amor não se cura
Senão com a presença e a figura.
O amor é conquista, luta...
No amor de minha amada tudo é sinal!
Eu quero passar, e o amor não me deixa passar,
Mas quer que eu passe.
Eu luto para ter amor, e o amor é feliz
De ver o meu peito de homem apertando seu coração.
Eu peço ao amor de minha amada o seu sim
E o amor de minha amada não mo diz
Pelo gosto de ouvir repetir ao infinito o pedido,
E sempre mais forte.
O amor de minha amada resiste a mim,
Porque o meu desejo de homem é ainda superficial,
Imaturo, infantil.
O amor de minha amada deixa que eu chore,
Porque homem que sou devo ter ainda
Necessidade de chorar.
O amor de minha amada me faz esperar,
Porque a espera é ainda necessária.
A união não está ainda madura,
O desejo está ainda, em sua falta de clareza.
Ainda é necessário, o desejo de viver o insaciável.
Mas, a noite não é exatamente para isso?
Não é na corrida galopante do dia que se conquista
O sonho de gozar no recôndito reino da amada,
E sim na serena paciência da madrugada.
Depois virá a aurora e minha amada
Repousará o colo reclinado, finda a luta,
Nos meus braços,
Em intimidade absorvente, serena e definitiva.