Não queira por seu pingo no meu "i"; nem ser meu trema que meu trauma está superado. A lição sabemos de cor, só nos resta aprender, conforme nos lembra uma canção popular. Adiante o relógio da imaginação pois na vida não ha sim nem não que nos garanta dimensionar os segredos da vida bandida. Há bandidos na vida que dividida nos permite pernoitar no limbo sensorial das divisórias existenciais.

Não queiras gostar de mim sem que te peça, mas acredite que sou incompetente no amor que nutro por ti. Nelson Rodrigues talvez tenha razão e, se um dia tu me taires, pedir-te-ei perdão. O perdão é o paredão que nos redime dos nossos pecados mais veniais e mais cabeludos. Não queiras gostar de mim à beça. Na peça teatral da vida talvez convenha mais a fuga do amor que por ser grande nos enlouquece; que por ser atemporal nos conduz ao desencanto por absoluta fata de parâmetro.

O abismo da vida não é o abismo das rosas. Nem a prosa do meu verso o endereço do meu deslumbramento diante de ti. Eu sei que tu podes me amar, mas eu igualmente não sei se saberei ser amado. Meu sofrimento é o lamento do assum preto que teve os olhos perfurados pelo homem em função do seu prazer imediato. As asas da graúna resumem meu sentimento de liberdade como se ser livre fosse poder desfrutar do universo pelas asas do Condor. Sendo colibri, sendo vaga-lume, limito-me ao cantinho diminuto para que possa vislumbrar o conjunto do mundo periférico. Afinal, eu não trafego nos palácios, mas das palafitas sou o mais terno investigador. O amor está mais nítido nas palafitas. Fita-se, lá, a vida como ela é; rifa-se lá o o sol que invade a brechinha da telha ou memo uma nesga de lua nova.

Do espinho não se nutre a rosa, nem deste trovejar se alimenta o poeta do absurdo que a vida impõe quando quer ser nossa madrasta. A vida não ata. O conde não mata. O bonde de Olinda não existe mais para conduzir as ilusões de antigos carnavais. Deixo que o vento me leve. Queixo-me ao leve entardecer para que meus amores não me deixem em  triunfar outonal. Dentro de mim há folhas soltas, jamais mortas. Há esperanças absortas, jamais mortas. Há janelas, mas não há portas. Há canções, mas nada importa. O ritimo do meu viver é o do meu sonhar.
 
Entre a vida e o sonho, sobra-me o gosto doce da imaginação criadora dos meus outros EUS. Por isto não me queiras mal. Por isto não me faças vênia. A taênia solitária do viver se enrosca em cada respiro de manhã que nos insurge como lucro que cada luz do dia nos dá como presente.
Meu texto é pretexto de amor fresco. Êxito da desilusão consentida em direção ao infinito das mais íntimas congregações espirituais. Hoje é sexta-feira, amanha pra onde irão meus ais? Por certo divagar em cada ponto da noite; por certo tomar um trago nos inferninhos da cidade atormentada de gente querendo ser feliz sem saber onde a felicidade mora; por certo adormecendo sozinho, quem sabe, numa pensão de quinta? Ou na minha cama vazia que acalenta a solidão nos dias de chuva e de sol, sós?