Esboço de mim

Meu riso

ficou assim mesmo,

impreciso.

Riso de pássaro de gaiola.

Meu olhar, é furtivo

de viageiro

é muitas vezes um riso

é de quem ri

em terras estranhas.

É um riso quase feliz

que por um triz

não ri por inteiro.

Meu caminhar,

é passo de monge.

E meu sonhar,

é longe,

meu viver é perto.

Meu suspiro é esperto

é um querer demais,

e um realizar um pouco.

E querer ser normal

em um mundo louco...

Onde poucos ditam "mentiras" a tantos...

E muitos convencem verdades a poucos...

Vivo num mundo

de doces ilusões e

amargas realizações.

Onde, para vencer na vida,

tem que morrer um pouco.

Já estou quase perto da

aposentadoria, quem diria...

Quase três décadas se passaram....

Eu que sonhava tanto

em ser tanto...

Hoje,

apenas sonho, com a quietude de um cantinho...

Talvez uma casinha ao lado, um lago,

para ver, se lá, eu pesco uns peixinhos!

Uma rústica mesa, onde eu possa olhar o

brilho dos olhos de meus filhos...

No entanto,

meus sonhos,

são simples assim;

maravilhosamente simples.

Quase em desencanto...

Ainda ouso olhar ao espelho...

Ainda busco, por um traço de meu passado...

Mas ainda temo, em encarar-me por mais tempo...

por medo de descobrir, verdades que vejo

nos outros...

Nem tenho tempo

para o ódio.

Tenho sim, para o amor...

Busco esculpir

em meus esboços,

os melhores guardados de mim...

que moldei em meus calabouços...

e que insisto em

transmutá-los em paraísos.

Mesmo que para isto,

seja preciso,

recomeçar esse moto-contínuo,

redescobrir de novo,

esse quase desatino,

que é o mistério

de viver...