O CANTO DA CEIA
Lá naquele terreiro
Onde tem um galinheiro
Lá onde vive um galo
Afinado no gargalo
Tem seu biodespertador
Que soa ao sol se por
Uma mulher sem ser cunhã
Como todas as manhãs
Se enche de coragem e fé
Para fazer o seu café
Come um pão amanhecido
Cobre-se com o velho vestido
Põe-se a esperar um coletivo
Que divide com homens lascivos
Que a tocam por todo itinerário
Pecado que conta ao vigário
Chega aonde faz a merenda
Cobre-se com avental sem renda
Que faz dela uma serviçal
Em troca de um trocado mensal
À noite, engalfinhada ao marido
Sem pensar se faz sentido
A possibilidade de outro parto
Sem que haja outro quarto
Para outro filho ocupar
Na fome se põe a pensar
E o galo que música esbanja
Passa a ser promessa de canja
E o canto que o dia anuncia
Serviu a quem tinha barriga vazia