O CANTO DA CEIA

Lá naquele terreiro

Onde tem um galinheiro

Lá onde vive um galo

Afinado no gargalo

Tem seu biodespertador

Que soa ao sol se por

Uma mulher sem ser cunhã

Como todas as manhãs

Se enche de coragem e fé

Para fazer o seu café

Come um pão amanhecido

Cobre-se com o velho vestido

Põe-se a esperar um coletivo

Que divide com homens lascivos

Que a tocam por todo itinerário

Pecado que conta ao vigário

Chega aonde faz a merenda

Cobre-se com avental sem renda

Que faz dela uma serviçal

Em troca de um trocado mensal

À noite, engalfinhada ao marido

Sem pensar se faz sentido

A possibilidade de outro parto

Sem que haja outro quarto

Para outro filho ocupar

Na fome se põe a pensar

E o galo que música esbanja

Passa a ser promessa de canja

E o canto que o dia anuncia

Serviu a quem tinha barriga vazia

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 06/06/2011
Reeditado em 06/06/2011
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