Três passageiros e Um Clandestino
Havia três garotos no barco aquele dia
E nenhum deles sabia onde estava indo.
Um deles brincava com um pedaço de graveto na mão
Perguntei-lhe se era retardado
Ele me disse que não, só lia demais livros de fantasia
E ficava por ai fantasiando o universo.
Lhe disse, isso não é pecado, porque eu também faço
Mas aponte isso pra lá, com educação eu lhe peço.
O segundo era marrudo e mal encarado
Encostado na beira do barco de braços cruzados
fazendo pose da galãn pras saiolas que saçaricavam.
Lhe disse, meu bom, deslambe esse topete
Com esta cara de bunda e três palmos de gordura
Tu não consegue por aqui nem mesmo uma tiete.
O terceiro, estranho, eu nao sabia só de olhar
Meio quieto, nervoso, triste e vazio
Que será que aquele moço fazia por aqui?
Fui até ele e perguntei, tinha cara de esperto
Ele então me respondeu que procurava um deserto.
Lhe falei, meu amigo, aqui no meio das Américas
O único deserto que tu vai encontrar
É aquele que existe entre cada ser humano.
Quis saber o que ele pretendia num lugar tão solitário
Ele me respondeu que estava tentando se encontrar
que havia se perdido e não lembrava como, quando nem em que lugar.
Me aborreci, ora garoto deixe de besteira
Como pode se perde de si se agora to falando aqui mesmo com você?
Ninguem se perde como ovelha tola, solta por ai
O teu problema é que tu se escondeu n'algum ponto de você
e esqueceu de anotar na porta de geladeira, onde ia se guarda.
Então porque não vai embora, da licença do meu barco
e leve aqueles dois, o metido e o maluco
Que eu to esperando, gente séria pra valer.
Ao invés de me faze perde tempo, vá vasculhar suas entranhas
A procura de você.