Três passageiros e Um Clandestino

Havia três garotos no barco aquele dia

E nenhum deles sabia onde estava indo.

Um deles brincava com um pedaço de graveto na mão

Perguntei-lhe se era retardado

Ele me disse que não, só lia demais livros de fantasia

E ficava por ai fantasiando o universo.

Lhe disse, isso não é pecado, porque eu também faço

Mas aponte isso pra lá, com educação eu lhe peço.

O segundo era marrudo e mal encarado

Encostado na beira do barco de braços cruzados

fazendo pose da galãn pras saiolas que saçaricavam.

Lhe disse, meu bom, deslambe esse topete

Com esta cara de bunda e três palmos de gordura

Tu não consegue por aqui nem mesmo uma tiete.

O terceiro, estranho, eu nao sabia só de olhar

Meio quieto, nervoso, triste e vazio

Que será que aquele moço fazia por aqui?

Fui até ele e perguntei, tinha cara de esperto

Ele então me respondeu que procurava um deserto.

Lhe falei, meu amigo, aqui no meio das Américas

O único deserto que tu vai encontrar

É aquele que existe entre cada ser humano.

Quis saber o que ele pretendia num lugar tão solitário

Ele me respondeu que estava tentando se encontrar

que havia se perdido e não lembrava como, quando nem em que lugar.

Me aborreci, ora garoto deixe de besteira

Como pode se perde de si se agora to falando aqui mesmo com você?

Ninguem se perde como ovelha tola, solta por ai

O teu problema é que tu se escondeu n'algum ponto de você

e esqueceu de anotar na porta de geladeira, onde ia se guarda.

Então porque não vai embora, da licença do meu barco

e leve aqueles dois, o metido e o maluco

Que eu to esperando, gente séria pra valer.

Ao invés de me faze perde tempo, vá vasculhar suas entranhas

A procura de você.

Caroline Mello
Enviado por Caroline Mello em 05/06/2011
Reeditado em 05/06/2011
Código do texto: T3015009