Exultação
Amo a saudade passageira de ti,
porquanto quando a mais louca ânsia
pariu a expectativa amorosa de um romance sonhado,
cuja realização superou toda e qualquer previsão,
o amor forte me fez, encantou-me, ergueu-me tão alto,
que mesmo à relativa distância temporária,
me é possível ouvir teu chamado eloqüente,
sentir-te o ardor do corpo carente do meu
e o regozijo da alma, para a minha s’enfeitando !
Quedo encantada enquanto me dás muito além do mundo inteiro
que sonhava te entregar num abraço acariciante
e diante do esplendor de Gizé, vencendo o tempo e a natureza
pela persistência, sinto a imensidade gratificante do nosso amor,
fortalecendo-se mais e mais,
após transcender tantos látegos de esperas!
A alma apertada pelas saudades d’outrora,
doente e ansiada,
exulta hoje de amor, por amor, no amor,
porque tu, amado meu, cá trouxeste o mundo aos meus pés,
transportando-me da serenidade e magnetude
das estátuas chilenas de Páscoa,
da emoção aventureira de Atenas,
das paixões do povo de Paternon,
da opulência dos mármores e diamantes
e do amor de Taj Mahal,
num desprendimento radical de quem se doa,
ao candor que fecunda o Mar Vermelho e as Ilhas Galápagos!
Fizeste sentir-me menina, deusa, sedutora,
fada, senhora, fêmea, mulher de mil faces,
banhada em fragrância mágica de Avlon,
da pele rosada, risonha e cheirosa,
sempre mais e mais no amor rejuvenescida,
a gazela romântica, que se enternece com a ópera Lohengrin,
dançando e cantando, no castelo Cisne da Noite
que, satisfeita com tantos presentes, frente à aurora boreal,
implora ao seu homem a solidão a dois,
no silêncio de sussurros, à luz de velas perfumadas,
onde vultos lascivos bailem nas paredes,
ao rugido de vasos dilacerados,
liberando flores nativas que enflorescem as almas!
Deste paraíso sagrado jamais sairemos,
pois além de longe demais ficarem
as migalhas de esperanças antigas,
o caminho adiante é um prêmio de vida irresistivelmente alucinógeno,
é crescente, infindo, infinito, balsâmico, abençoado,
para cumprirmos cada uma de nossas juras mais íntimas,
viandantes de mundos distantes demais
para sequer supormos regresso!
Santos-SP-25/11/2006