Em pele de cordeiro

Vivemos em uma sociedade cada vez mais fria de sentimentos... Basta olharmos para os lados e confirmar o quão irracionais temos sido com o próximo... Violência e mais violência da mundana e existencial arena temos inertes o espetáculo aplaudido, como se os gladiadores do presente preenchessem o vazio dessa insensata, imoral, desigual, atemporal e moribunda desrazão... Esse desenfreado slogan é apenas um dos reflexos do que vem ocorrendo em nosso desditoso e cruel cotidiano... Sequelas endêmicas à epiderme uma mancha de insensatez deixa um rastro de loucura à desvalida irmandade, qual ventura um cérebro carcomido aspira uma auspiciosa desventura...

Sob o teto dessa álgida realidade, devemos ao menos nos colocar ante o espelho da vida para que assim possamos meditar a vil desgraça e, à imagem do instante reverberada, ver que a silhueta facial que se mostra oculta uma inumana graça... Pois é nesse paradigma que haveremos de ver o banal e desventurado ser que verdadeiramente somos ou daquilo que à esteira de um aprendizado malquisto sorrateiramente herdamos...

Nesse evidente solavanco, sem pensar muito, pelos palcos da inconstante realidade gélidas maldades vão se assomando, desde um simples não à caridade, e, até porque não, à barbárie... Em meio à tormenta dessa ganância se maquiam e se atropelam sem maiores escrúpulos: - principalmente quando se fala de negócios que lhes dão lucros ou sequer divisas em detrimento daqueles que, sob o jugo da desgraça, ainda lutam para se manter de pé e, à mesa de um álamo sombrio, avidamente saboreiam uma gritante, magra e revoltante asperidade... Co-participam de ardilosas tramas em desfavor dos mais fracos; isso quando não selecionam os seus pares à redoma do já consagrado orgulho, invocando para si a vestidura do maquiavelismo da suposta era moderna e fascista: o da purificação dos próprios atos em meio à sombra da demência, qual cordeiro se afigura de lobo com aquela impertinência...

Não precisamos ser peritos em comportamentos para descobrirmos o quão esse travestido de samaritano tem sido um facínora para com o próximo... Não é de se abismar que hoje se assiste de perto a frieza desse recalcado bípede que aos poucos vem se curvando ao precioso metal com aquela ganância desenfreada de sempre e, na esteira da falsa cordialidade, esquece que tais atitudes têm-lhe trancafiado no portal da solidão, cujo calabouço a própria sepultura se lhe abre sorrindo na Praça da Igualdade a comporta...

Nessa abominável filosofia, um rastro de demência um triste aceno para trás vai deixando: a do próprio manicômio... E, como se não bastasse a tudo isso, levam consigo a suposta perpetuação da espécie sempre herdando aos filhos do hoje e aos do amanhã a frieza desse levante despropositado, de cuja moderna guerra os próprios corpos espalha... Pois a razão sem a outra face da emoção torna-se vazia, burra e efêmera...

Enquanto esse ser chamado homem deixar-se levar pela aspereza exagerada dessa razão, a heresia há de reinar e com ela a perpetuação da hipocrisia... Para tanto, faz-se necessário, a nós discípulos da humana vida, ao final deste preâmbulo acordar, sopesar e remar contra essa enorme mesquinharia, caso contrário estaremos fadado a afogar nas ondas decrépitas dessa monstruosa honraria...

Pálido poeta
Enviado por Pálido poeta em 04/06/2011
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