“Caimbo” final
Agosto de 2006
- Atento Gurupá, atento Gurupá, Amazônia chamando, câmbio
Mistura de chiado e silêncio.
- Atento Gurupá, atento Gurupá, Amazônia chamando.
- Gurupá na escuta, prossiga Amazônia.
- E aí Gurupá, tudo bem por aí?
- Rapá, vamo varando... quais são as moda, caimbo?
- As moda são o novo tempo de mudança que tão se fazendo, copiou?
- Copiei. Só não entendi o que tu quiz dizê!
- É um novo tempo de revolução. Revolução fundiária, preservação, manejo e liberdade.
- Ih, vocês tão se atrasando. Isso nós já fazemu, caimbo.
- Rapá, pensei que só Xapuri tinha se alertado pra essas coisas, que Deus tenha Chico Mendes.
- Poisé, machu. Aqui nóis tamu na luta, fazendo a nossa reforma agrária, no trabalho duro, mas tamu fazendo, copiou?
- Copiei. E vocês num contam nada pra gente, né? Pensei que Anapu seriam os próximos a se resolver, que Deus tenha a irmã Dorothy.
- Amém. Mas é que a gente faz a coisa pela beirada, quietinho, afinal eu sou Gurupá.
- Entendo.
- Ó. E Anapu vai sim se livrá dos patrão, vai vê!
- O problema são os fazendeiro de lá. Homens perigosos, câmbio.
- Mas eles num pode com o povo não. Acho mais perigo os cara que plantam a tal da soja, caimbo.
- Por que, Gurupá?
- Purque cum dinheiru se compra qualqué um. Santarém achou que era vantagem vendê suas terra pros sojeiro e vive só de cidade. Tá se complicando. Tá ficando arrenpendida, copiou?
- Certo, certo. Tu tá preparado aí pra uma bronca dessa?
- Rapá, tamu alerta pra qualqué problema desse.
- Deus te conserve, Gurupá. Então vamu pra festa da mata, dos filhos e dos neto?
- Repete que o chiado não fez entendê!!
- Tô convidandu pra festa da mata, dos filhos e dos neto pra sempre, copiou?!!
- Será qui eu posso ir?
- Se pode? Tu vai ser um dos tocadores da festa, câmbio!
- Eita piseiro! Então pode esperá lá amigo. Posso levá uns parceiros, caimbo??
- Pode sim.
- Certo, não te preocupa, são tudo gente boa e com vontade de participar de uma festa dessa. Conhece o Afuá, caimbo?
- Nem Afu-B! ahaha!
- Certo, certo, vou levá os amigo então...
- Traz. Ó, aquela menina Breves continua doidinha, câmbio?
- Continua, mas com o tempo se emenda, ok?
- Ok, só eu vendo... mas olha, não vem com o Paragominas não, copiou?
- Purquê?
- Já aprontou muito por aí e ainda não acredito que se ajeitou. Não quero confusão, ok?
- Ok, copiado. Mais alguma coisa?
- Ah sim, entregou meu presente pra São Benedito?
- Tá entregue, caimbo.
- Obrigado. Já fiz até outra promessa, copiou?
- Vai fazendo que o santo é glorioso. Mais alguma coisa?
- Daqui mais nada não, espero vocês lá. Então fique com Deus e câmbio final.
- Fique com Deus também e caimbo final.
Fim de transmissão.
(este texto foi incorporado na Tese de Doutorado Waves in the Forest Radio communication and forest livelihoods in Brazilian Amazonia, de Mônica Mazzer Barroso, de agosto de 2006.)