QUESTIONAMENTO

Q U E S T I O N A M E N T O.

Acordei-me um pouco só

Era até demais a minha

Própria e inútil companhia

Mas, num lampejo ainda

Sonâmbulo e meio confuso

Lembrei-me de ti

E de mim mesmo tive dó

Era o confronto com o existencial

Do ser que não quer ser

Uma luta, um vazio sem igual

Um questionamento sem importância

A importância é a gente quem dá

Por estar só e em relutância

Com o premido do silêncio

Onde só nos rodeia o éter

Pra inconscientemente respirar

A gente pára no tempo e

O inconsciente entra em alerta

Vigia genético que nos cutuca

Com estímulos e feixes de sinapses

Sacudindo o mecanismo pensante

Do cérebro, esse pequeno gigante

Cúmplice ativo desse fenomenal

Hábito, o doce vício de viver.

Aliás, é o único vício que se conhece

E que se pega ao nascer

Não há exercício e nem remédio

A boa vontade não se quer ter

Terapia para largar esse vício é só morrer

Morre-se de tudo e de todos

Morre-se de viver? Não, muda-se de viver

Mudança sem malas e outras bagagens

Voa-se sem tirar passagem

Pra mudar de lar e não ter saudades

Do doce vício de viver

Hoje mesmo vou cancelar

A passagem do ônibus etéreo

Não quero, agora, mais viajar

Sou inveterado nesse doce vício

Ele ainda vai me matar

Do doce vício de viver

Quando morrer.

Eráclito Alírio

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 25/11/2006
Reeditado em 29/03/2010
Código do texto: T300804