INTROSPECÇÃO
Às vezes, em dias quentes, sinto uma alegria imensa na tristeza, uma paz incrível na companhia da solidão.
Nesses instantes muito me apraz o ficar assim olhando o infinito, querendo estar nesse lugar impossível.
Ah! A vida é cansativa! É boa (boa?) mas é cansativa.
Uma lagartixa atravessa a toda pressa o espaço branco da parede a procura de outro esconderijo.
Apesar da pressa ela parece tranquila, gorda... , mas eu continuo olhando, agora, só para a parede, branquíssima... .
É muito grande o trajeto feito pelo animalzinho insignificante, mas ele o fez tão rápido!
Assim as horas vão passando...
Às vezes rápidas como um raio!
Às vezes devagar, com a pachorra de quem não quer chegar nunca, nunca.
É, então, que um vulto de pessoa fica para um canto, quieto, olhando, olhando, olhando... como se quisesse seguir o infinito até o seu ponto "final".
Realmente a vida é cansativa! Um baile cheio de mascarados que ora se distinguem ora se confundem.
Mil caras e atitudes a um mesmo tempo, dando aspectos distintos a um só personagem; espectro lívido e sombrio.
Uma multidão entediante, zombeteira, besta mesmo.
A lagartixa voltou pelo mesmo caminho.
E eu não posso.
Sou, às vezes, atraído pelo fétido, pelo pútrido... .
Deleito-me com uma Rosa que exala aromas nauseabundos de almas que não se lavaram.
Ah! Esse silêncio retumbante como as tempestades de Ulisses!
Um desejo impetuoso de explodir e ficar vendo os milhares de pedacinhos em rotas diversas, perdendo-se... .
Mas isso é um animal muito perigoso que tem de ser mantido em sua jaula.
Ah! Vida!
Sinto um sono terrível de dormir pela eternidade afora... .
É o que vou fazer, mas para acordar um outro e recomeçar tudo... outra vez... .