Casa da Alma
Abro a porta do tempo
Casa escura e vazia
Chamo a ama decrépita
Que resmunga o seu silêncio,
E como sempre e todo dia
Saca-me as armas e o casaco
Arranca-me as botas pesadas
Sem se lembrar do chapéu
Que ao cair no chão imundo
Traz-me enfim, a realidade:
A solidão corta-se de faca.
Aqui clamo ao eco do pranto: fala!
Na rua não sou querida,
Cá dentro não sou bem vinda
Nos cantos, olhos espreitam
As cortinas, mantenho-as fechadas
E na cama jaz um corpo (ou dois?)
Belo espécime adormecido
Tez calma, ausente e pálida
Chamo um nome antigo e vago
Não obtenho resposta
Sinto no ar o odor forte
Profundo cheiro do amor
e da morte