Cárcere
 
Foi-me necessário rasgar minhas entranhas
Para tocar apenas seu caminho rotineiro
Não, não me é fácil como se tivesse uma moldura
Uma tela na qual pudesse estampar mil vezes meu sentimento
Foi preciso perder meus passos para andar seu ritmo
Perdi minhas palavras para reconhecer seu dialeto
Silenciei meus questionamentos para escutar suas interrogações
E processei os anjos pela vilania de terem-no permitido dentro de mim
Acusei formalmente os céus ao percebê-lo em minha cama
Atravessando meus sonhos num saqueamento criminoso
Dilacerei minhas amarras sagradas para me sentir livre
Apenas para ter o prazer de ser enclausurada por você
E não me foi dado alimentos e nem água como criminosa fosse
Entreguei-me a ditadura cruel do meu coração ensandecido de amor
Fui torturada pelos seus olhos que se desviaram de mim
Sobrevivi porque aceitei a pena perpétua da sua ausência imposta
E pago a todo momento as taxas por não ter adulterado minha alma
Em nenhum momento menti para salvar minha pele
Enquanto persistir em mim este sentimento jamais o negarei
Mas no momento em que dele não for mais escrava
O ar entrará em cada uma das minhas células, por ora estáticas
E tão surreal quanto possa parecer, decretarei ao mundo minha liberdade
Liberdade que me fará abrir as asas e voar livre de você em mim

30.05.11