(Memoriais de Sofia/Zocha)
. De onde vinham? Para onde iam? A pedra abraçando o lagarto, o lagarto gravado na pedra. Alguém passara por ali e fizera tudo aquilo. A pedra, o lagarto, a gravura... o remoinho dos olhos, as folhas salpicavam pelos caminhos íngremes, o vento sorrateiro passeava assobiando de mãos nos bolsos, ouvia -se o murmurio de passos dele ,o crepitar das chamas quase incendiara as cavernas,. Zocha havia posto tanto nó de pinho no fogão marrom que estourou a chaminé de latão e já pegava fogo nas paredes de madeira da casa. Ela levantou a tampa da panela , ferviam os cheiros. Na vidraça embaçada os olhos do lagarto cheios da água lambiam o bouquet das chuvas. Só neblina, a noite de boca gelada e triste engolia o ar enquanto os lagartos alvoroçados desfilavam pelas sonolentas ruas da metrópole mendiga, batendo nas suas janelas. E lá vai a noite, bebada de madrugadas a contar histórias de salamandras apagadas cachimbando o vento. Para onde vai essa negra noite de estiagem de outono parindo fervuras? Do céu os asteriscos buscavam quenturas, as chaminés vomitavam escritas para os cegos, faíscas acendiam e das cinzas rebrotavam olhos de lagartos feridos. Como contar que aquele buraco negro sempre existira na Vila Guaíra? Ninguém acreditaria que havia uma outra vila dentro dos quintais daquela vila. O tempo havia quebrado os copos e sacudido a mesa de taboas e revirara as cadeiras de palha. Arrepiava haver de contar aos lagartos ,dos lagartos que entravam dentro das pedras e das pedras que entravam dentro dos lagartos e das eternidades dos gravados do amor que aconteciam e equivocavam os ventos...
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