Parece que estamos todos condenados a peregrinar em um deserto imenso, em noite tenebrosamente escura, que teima em não se dissipar. O dia claro nunca chega e nada sabemos sobre este deserto .
Às vezes, vemos raios de luz, logo após um grande estrondo. Essa rápida clareira, que dura míseros segundos, aparece no céu da nossa ignorância. Antevemos, num átimo o que esta terra pode nos oferecer. Vemos imagens distorcidas. E os mercadores que andejam sem destino certo, às apalpadelas, imaginam riquezas que podem ser exploradas. Mas a noite gélida do deserto prossegue sem dar chance para uma mínima clarividência.
As pequenas luzes das estrelas estão muito distantes para iluminar o caminho do viajante errante.
Naquele último relâmpago alguém viu um lago, mas nada mais pode transmitir do que essa visão vaporosa. O caminhante do Norte, que também viu este mesmo relâmpago, acredita que enxergou imensa montanha.
Os povos do deserto, em suas faixas de terra, se reúnem e discutem, ao pé de suas primitivas fogueiras, os fantasmas que conseguiram, a muito custo, vislumbrar.
Lentamente, os mais sábios vão construindo suas cabanas a leste do deserto, intuíram que uma grande estrela nasce daquele lado e que pode, um dia, surgir imponente e descerrar, com sua claridade permanente, o véu que impede os povos de se unirem e, enfim, descobrirem o mistério de suas vidas.