Caixinha de música
Um dia bonito, assim meio tosco, meio doce, muito quente. Pensei em te comprar rosas, mas elas morrem, não queria te dar nada que morresse porque meu coração não dorme. E nessa caminhada até a música eu encontrei nas pedras, barreiras, muros… Não paro, meu eu não para.
Tentei te seguir, mas meus passos eram mais lentos, menores. E você seguiu à minha frente. Eu te gritei, chamei, clamei. Não deu, não pude te alcançar. E te vi ir, e rir, e chorar, e… e eu?
Ah, é tanta dor que não para de doer, é tanto querer que não para de querer, é tanta lágrima que não para de descer, e tanto amor que não para de você. Não, amor não acaba mesmo com o fim, mesmo que assim com tudo errado, parado, equivocado. Amor não deixa de amar nunca.
Imaginei uma chuva de pirocópteros coloridos, você consegue ver? Eu passo em um descompasso delírico-infantil e nesse compasso percebo que o amar é mais forte que o querer, e que contradições amorosas são mais comuns que a simplicidade do beijo.
Mãos dadas é coração disparado. Eu não sei como, mas meus sonhos são sempre muito errados, exceto os que crio acordada ao seu lado. Tem dias em que choro, dias em que espero chover e não chove.
Lâmpadas são luas a envolver de encanto minhas noites insones. Amarelas, azuis, brancas, piscam de forma desconexa como um balé atrapalhado, mas são luas próximas, luas de borboletas lilases. Seria possível tamanha felicidade? Eu queria dormir todas as noites envolta por luas de borboletas lilases. Odeio simetria e previsibilidade.
O sonho é melhor do que o doce de leite, amor de verdade é melhor que perfeição de sonho. Eu invento terços para rezar por uma culpa que eu nem sei se tenho, mas Deus tem que me perdoar por esse meu coração tão confuso e partido, por essas frases sem sentido, por esse amor desmedido, escondido em propagandas publicitárias de horário nobre.
Colho o vento e empurro para dentro da minha caixinha, a música não toca mais, mas a bailarina ainda gira. Porque pararam de vender caixinhas de música? Já dormi tantas vezes olhando a bailarina e ouvindo aquela musiquinha que repetia, e repetia, e repetia e eu dava corda. Até o dia acabar, até a fantasia chegar e eu começar a rodopiar no Teatro Municipal, e todo mundo me olhar, e eu só pensar em girar e girar e girar e cair tonta nos seus braços.
Passei rapidamente toda a história da minha história pra você. Agora que estou liberta da senzala, eu posso viver ao seu lado, se você ainda quiser viver comigo, se quiser ser meu amigo, abrigo, porto seguro ou frágil. Se quiser ser meu, eu já sou sua desde a primeira vez que te ouvi cantar, desde os meus sonhos mais bonitos que eu guardei junto com o vento na caixa de música. Era o seu rosto! Hoje eu tenho certeza de que era seu rosto. Meu amor grudou na retina dos seus olhos que não mudam de cor.